segunda-feira, outubro 03, 2005

Limbo


A praxe é um rito de iniciação. Embora muitos não concordem (e se considerarmos certos abusos que proliferam por essas faculdades fora, provavelmente terão razão), a praxe é mesmo um rito de integração e iniciação. O gelo entre colegas novos é quebrado, porque todos estão na mesma situação. Um sorriso pode ser o suficiente para no dia seguinte nos sentirmos à-vontade para abordar essa pessoa e não nos sentirmos perdidos. E isto é particularmente verdade na Faculdade de Medicina de Lisboa.

No entanto, não é isso que me impele a escrever hoje. É que do outro lado dos praxados está o doutor finalista, que se submeteu às mesmíssimas coisas há escassos 5 anos e agora exerce o direito conquistado de assustar caloiros no corredor da morgue, dizendo-lhes verdades inacreditáveis que apenas com o tempo eles se aperceberão que o eram.

Foi neste ponto que me deu um 'Bac!' no espírito...Sou estagiária, finalista, o período de aulas que tenho desde há 18 anos acabou...aqui, no ponto em que me parece simplesmente inacreditável que tenha passado 5 anos...

Um colega do 2º ano comentou comigo 'Quem me dera estar no 6º!'. Eu sorri, embora a minha alma estivesse perplexa: lembro-me perfeitamente de o sentir, lembro-me de o dizer, e... estou do outro lado...Num ápice, num suspiro, cheguei ao ponto onde sempre ansiei estar. E neste momento não consigo sentir-me senão no limbo, nem me sentindo impostora, nem me sentindo inchada. Apenas num modesto estado de graça e gratidão. Apenas sentindo.

A todos os colegas que agora iniciam esta etapa comigo o desejo sincero de que este ano abra as portas para tudo o que sempre sonhámos alcançar desta profissão!

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